quinta-feira, 14 de abril de 2011

Aos velhos poetas - XXI, XX, XIX

Dedicarei estas linhas aos esquecidos, desconhecidos, nunca citados... Eles retornam nas minhas palavras, e o espírito permeia as minhas idéias.

Latino-americanos, africanos. Poetas que por causa dos fatos que sucederam nossa história, foram sepultados pelos cérebros brancos do mundo. Dois discos de vinis, um de  bolero, outro de um canto onipresente negro da minha vida. Desconcerto, ávida, atávica, rumores que não poderemos ouvir, é uma voz poética a que me refiro. Sejamos bons leituros-ouvintes!

O século das inovações, María Baralt, , seus escritos são de símbolos nacionalistas, cunho ufânico e o seu peito rasga sentimento e desejo. Em “adeus a pátria”


"No te duela mi suerte, 
No maldigas mi nombre, no me olvides 
Que, aun vecino a la muerte, 
Pediré con voz fuerte 
Victoria a Dios para tus justas lides 
Dichoso yo si un día 
A ti me vuelve compasivo el cielo, 
I me da, patria mía 
Digno sepulcro en tu sagrado suelo”

Para nos brasileiros e resto da população mundial, exceto os literatos, lingüistas, escritores e venezuelanos é claro; Baralt é mais um andarilho sem prosa, sem voz poética. 50 anos, assim mesmo pode ser uma alma fleneur, e desditoso é o pensamento. Os caudillos presenciados por ele, foram surtidos como efeito  em suas obras e diz adeus a sua terra voltando-se aos estudos, ao conhecimento. Um movimento de trajetória infama aos olhos de qualquer um.

Se os fatos que estamos defrontando são débeis (aos que afrontam, a essa visão eurocêntrica que temos de tudo.Hanni Ossott, reencarna em uma única palavra, sensibilidade, pureza. E dizem por aí que esse espírito é uma centelha, entenda com sólidas manchas de café e um copo de uísque, e adentre-se aos costumes esquerdistas de bons prosadores, quem realmente é Hanni Ossott, a luz que ilumina o portão, esta terra? É árvores e plantas? Por acaso é o mar? É colinas, ribeiras, água banhada de luz? È um corpo cansado de tanta “errancia”? Um corpo uma alma cansada do medo? É o temor? Quem é esta venezuelana, que se arrastou até o século XXI, viu a tecnologia trocando os parafusos da mente, do tempo, do espaço!

E assevera:


“No soy hija de la guerra, suspiro... 
soy nieta”

Filosofia pesada, em qual das bandas do mundo estamos seguros? Juan Calzadilla, crítico poeta do século XX, da era das cidades, e nela ele debruça, enfiando-lhe ferros, angústias, desesperos, cimento, veneno do seu próprio veneno. Um cuspe, um sobejo, uma dança com as letras em meio ao que direi “ putrefante”. Exagero, mas renasce na decomposição de vogais, consoantes, encontros... e Paradigmas poéticos?


"Uso de tudo, a parte superior do bueiro,
a lua na água , procurando por si só,
a flor murcha, no auge da mangueira do extintor de incêndio.
Não deixe de fora qualquer coisa, nem o facto de as algemas
dos dedos sobre o balcão de vidro
moscas e taças de gelo duas noites após bebedeira
nem a voz que termina quando você desliga o rádio.
Nem bater a meia-noite na rua
parede passo-cego em que você imprime
golpeando suas más ações, suas dores
e graffiti para chutar sua blasfêmia."

Grita cidade, grita Calzadilla, tenho sempre sonhos horríveis, e este poeta, fora esquecido, por não habitar em minha doença, uma flor de sete campos, sete lados, um rosto sem forma, derretido. São várias coisas que fazem para  nos prender!

Inumado, e só tenho ao ouvir as guitarras de Hendrix, “malignando” o seu misticismo. São marcas, não compreendemos, ou não estudamos, sim, vocês já sabem a resposta. Nossa alienação cultural. Renegamos o que é tão próximo, renegamos até mesmo o que é nosso! E saiba, a poesia latino-americana, é de tão importância; desfrutar, introjetar, e descobrir um mundo.

“Dormindo rápido, morrendo muito rápido, doendo junto a todos, não quero essa junta, não orarei junto a ti, esse coração não é mais meu!”

“Agora o sangue negro
Aflora
E sairemos destas terras pálidas
Iremos embora
Sugaremos o fel da boca dos malignos
Ao irmão que implora”

Em nossas linhas desenho o rosto de Obuja Dnu,
“beba o sangue enegrecido,
saia dessas ruas, puto desejo embevecido
de claras e de marchas ao meu país,
querem civilizá-lo engula fel em veneno sem juiz”

Obuja Dnu, Etíope,  viveu entremeio Rascismo e  a fome. Século XX, nasce um dos meus preferido poetas negros, sensíveis. Contudo sua estadia nesta terra é curta. Deus envia-lhe o chamado, e com 36 anos morre desfrutando os únicos brotos de sua vida vazia, estremecida, desconhecida, e infectada, pelo vírus mortal, AIDS. E deixa seus últimos escritos.

“Venha aos meus olhos
E se renda ao brilho
Se aproxime dos gigantes
E nunca se submeta ao grito
Ter-se-emos que morrer
Morreremos por orgulho
Se vivemos por matar
Mataremos as luxúrias
Os cachorros dão risadas
E seus dentes são amarelados”

Sarando as feridas, deitado no chão todos lhe dão como morto, e morderemos as ideologias com muita gana, voltando a este mundo, sem poder vingar os nossos ancestrais, as letras que se desenvolvem na Angola, e como diz Francisco Soares “Os recursos técnicos, desideologizados como veremos que eles estavam em Angola na época, eram adotados sem autocensura. Isto faz com que o seu estudo nos dispense de reservas que a comparação ao nível dos conteúdos e referências imporia, fragilizando as nossas conclusões.” Conclusões essas que giram entorno da “liberdade escrita”.

E falar de poesia angolana é falar de Viriato da Cruz, um dos maiores precursores da poesia regionalista. Sua simplicidade, seu rigor tanto na forma como na temática, o faz um dos maiores poetas velhos esquecidos.


MAMÁ NEGRA 
(Canto de esperança)
        (À memória do poeta haitiano Jacques Roumain)
Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça,
Drama de carne e sangue
Que a Vida escreveu com a pena dos séculos! 
Pela tua voz
Vozes vindas dos canaviais dos arrozais dos cafezais
    [dos seringais dos algodoais!...
Vozes das plantações de Virgínia
dos campos das Carolinas
Alabama
    Cuba
        Brasil...
Vozes dos engenhos dos bangüês das tongas dos eitos
    [das pampas das minas! 
Vozes de Harlem Hill District South
    vozes das sanzalas!
Vozes gemendo blues, subindo do Mississipi, ecoando
    [dos vagões!

Estamos enraizados a cultura africana, negamos o passado, temos medo do futuro e fantasiamos o presente, assim, partimos sempre do pressuposto; Não sou o que a massa não é. E as almas desses e de muitos outros pensadores, amantes das letras, humanitários, se perdem, não encontram a vontade em terra realizada, e varam pelo mundo das sombras descontentes com o inferno encantador!

Geronilson da Silva Santos - Nº11

Um comentário:

  1. Geronilson, achei de uma sensibilidade sem igual esta singela homenagem aos "poetas esquecidos". Lembre-se de que só serão esquecidos de fato por aqueles imunes à beleza das palavras, ao contexto do amor e da dor. Obrigada, você, pela originalidade.
    Reveja a grafia de IDEIAS, LEITORES, NÓS, LINGUÍSTAS, INFAME, ERRÂNCIA, DISPENSA e EM TORNO. O melhor seria escrever: POETAS QUE, POR CAUSA DOS FATOS QUE SUCEDEM NOSSA HISTÓRIA,// ALMA "FLENEUR"// OS CAUDILLOS PRESENCIADOS POR ELE FORAM...// HANNI OSSOTT REENCARNA EM...// MEUS PREFERIDOS// E INFECTADA PELO VÍRUS MORTAL// ENRAIZADOS À CULTURA...//.

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